X
FORMAÇÃO DOS LIMITES
biblioOs
papas Nicolau V, Calixto III, Xisto IV concederam
à coroa portuguesa as terras e ilhas novamente
descobertas sob o influxo do infante d. Henrique e
dos seus sucessores imediatos. Com surpresa de Portugal
obtiveram os reis católicos uma concessão
do mesmo gênero depois de Cristóvão
Colombo tornar de sua primeira viagem: em maio de
1493 atribuiu-lhes Alexandre VI todas as terras e
ilhas descobertas e por descobrir, situadas cem léguas
a Oeste de qualquer das ilhas do Açores e do
Cabo Verde.
biblioProtestou contra o ato pontifício d.
João II, julgando-o lesivo de seus direitos;
depois do protesto entabulou negociações
com os monarcas vizinhos; afinal concluiram um acordo
em Tordesilhas. O convênio, aí assinado
em 7 de junho de 1494, manteve o princípio
enunciado pelo Papa: a divisão do mundo em
dois hemisférios, pertencentes um a Portugal,
outro à Espanha; modificou, porém, o
número de léguas, elevando-as de cem
a trezentas e setenta, e o ponto de partida para a
contagem, que seria uma ilha, não especificada
então nem depois, do arquipélago do
Cabo Verde. O arreglo foi meramente formal e teórico:
ninguém sabia o que dava ou recebia, e se ganhava
ou perderia com ele no ajuste das contas.
biblioO descobrimento do Brasil, realizado alguns
anos depois por Pedr’Álvares Cabral,
foi precedido pela expedição de Vicente
Yañez Pinzon; mas os espanhóis não
alegaram prioridade nem duvidaram coubesse a terra
dos Papagaios dentro na raia portuguesa. Seus interesses
estavam ao Norte, não ao Sul da equinocial,
que só começou a ter valor com a expedição
de d. Nuno Manuel.
biblioAs primeiras dúvidas sobre a linha divisória
surgiram no mediterrâneo austral-asiático.
Segundo o parecer de Fernão de Magalhães
compreendiam-se nos domínios da Espanha as
Molucas, tão cobiçadas por suas especiarias.
Para prová-lo empreendeu a viagem em que descobriu
o estreito ainda hoje conhecido por seu nome, atravessou
o oceano Pacífico, chegou pelo Poente ao Levante
como nebulosamente concebera e nunca realizou Colombo.
Depois de sua morte Sebastian d’Elcano concluiu
o périplo incomparável e na volta à
pátria, em setembro de 1522, manifestou a mesma
crença nos direitos de sua nação
e a urgência de reivindicá-los. A corte
espanhola deixou-se convencer. Entre ela e a de Portugal
estabeleceu-se uma discussão enfadonha, alegando-se
ora a prioridade do descobrimento, ora a legitimidade
do domínio no arquipélago prestigioso.
Do debate resultou a capitulação de
Saragoça, em abril de 529. Admitindo que as
Molucas pertenciam legitimamente à coroa espanhola,
João III comprou os direitos de Carlos V, por
trezentos e cinqüenta mil ducados; se mais tarde
verificassem a não existência de tais
direitos, o imperador restituiria a soma recebida;
a linha divisória passaria naquele hemisfério
duzentas e noventa e sete e meia léguas ao
oriente das Molucas; e a légua seria das de
dezessete e meia o grau no equador.
biblioO machado de metal levado em 1514, as expedições
de Solis, Cristóvão Jaques, Cabot e
Garcia deram importância às terras platinas
e levantaram a questão de limites no continente
americano. Surgiram e arrastaram-se os debates a propósito
da expedição de Martim Afonso de Sousa
(1530-1533), sempre sob a dupla face de prioridade
proclamada por Portugal e legitimidade de domínio,
alegada por Castela. Em setembro de 32, exprimia d.
João III a idéia de distribuir em capitanias
hereditárias o território situado entre
Pernambuco e rio da Prata; nas doações
feitas mais tarde, avançou apenas até
28º 1/3, à vista das reclamações
espanholas, ou, segundo parece, de observações
astronômicas de Martim Afonso, assim reconhecendo
que seus domínios não iam mais longe.
Os espanhóis estendiam, porém, suas
pretensões mais para o Norte. Em 534, Rui Mosquera
estabeleceu-se no Iguape, repeliu com vantagem um
ataque de Pero de Góis e saqueou S. Vicente;
diversos documentos oficiais contemporâneos
traçam a linha divisória desde Cananéia
e até de S. Vicente para o Sul.
biblioCom a união das duas coroas decresceu
a importância dos limites meridionais e a atenção
concentrou-se na Amazônia. Ante as incursões
de flamengos e ingleses, conhecidas apenas no Pará
se estabeleceu Castelo Branco, pareceu acertado confiar
as novas conquistas à guarda dos portugueses
mais próximos e melhor preparados para defendê-las;
a criação do governo separado do Maranhão
representou um primeiro passo neste sentido. Ainda
mais decisiva foi a criação de duas
capitanias hereditárias, sujeitas ambas à
coroa portuguesa, em terreno indiscutivelmente espanhol
pelo espírito e pela letra de Tordesilhas:
a de Cametá, concedida a Feliciano Coelho de
Carvalho, limitada a Oeste pelo Xingu na margem direita,
a do cabo do Norte na margem esquerda do Amazonas,
concedida a Bento Maciel Parente, limitada a Oeste
pelo Paru. Em 1639, Pedro Teixeira, voltando de Quito,
tomou posse em nome del rei de Portugal das terras
situadas entre o rio Aguarico, afluente do Napo, e
o mar; faltava-lhe autoridade para tanto; mas este
ato foi mais tarde e muitas vezes invocado e aceito
como título de posse.
biblioNo Sul, o movimento de ocupação
se operou com muita lentidão por parte de Portugal,
acompanhando o litoral do Paraná e Santa Catarina,
e continuou do mesmo modo ainda depois de 1640. Por
sua parte os espanhóis não curaram de
ocupar a margem esquerda do Prata, descuido verdadeiramente
inexplicável, se não duvidavam de seus
direitos, a menos que se não explique pela
certeza de sua intangibilidade.
biblioSe persistissem as reduções dos
Tapes e de Guairá, avançariam naturalmente
para o Oriente, chegariam à marinha. Se outros
elementos os reforçassem, o conflito poderia
ser evitado ou talvez a vitória lhes coubesse.
Mas os jesuítas só reergueram as missões
do Uruguai, e as relações destas gravitavam
para Buenos Aires e Asunción, como estas capitais
para os Andes e o Pacífico.
biblioAutores portugueses discutiam entretanto o meridiano
de Tordesilhas, traçando-o uns pela foz do
Prata, outros pelo golfo de São Matias, na
Patagônia. Tais idéias tornaram-se correntes.
Depois de assinada a paz que reconheceu sua independência,
o monarca de Portugal outorgou uma capitania a um
dos netos de Salvador Correia, balisando-a pelo estatuário
platino. Em 1680 mandou fundar na margem setentrional
do Prata, a dez léguas de Buenos Aires, a colônia
do Sacramento.
biblioApenas certificou-se de sua existência,
o governador espanhol atacou-a e tomou-a. A notícia
transmitida à Europa quase desencadeou nova
guerra. Procurou-se ainda uma vez, e agora com mais
veras, apurar o verdadeiro alcance da linha de Tordesilhas.
Não se conseguiu. A Espanha condescendeu em
reconstruir a fortaleza e restituir provisionalmente
o território, para afastar qualquer motivo
de irritação do debate, que deveria
continuar no terreno científico.
biblioAo rebentar a guerra da sucessão da Espanha,
el-rei de Portugal esposou a causa do duque de Anjou,
que por isso lhe cedeu o território disputado
no Prata. Mais tarde mudou de partido e aliou-se à
Inglaterra a favor do pretendente austríaco.
Daí resultou novo ataque e nova tomada da colônia
do Sacramento, que permaneceu em mãos do inimigo
de 1706 a 1715. Levara até então vida
bem singular. “A nova colônia do Sacramento
por mercê de Deus se conserva”, escrevia
alguém pouco depois de 1690, “por meterem
nela um presídio fechado sem mulherio que é
o que conserva os homens, porque se não tem
visto em parte alguma do mundo fazerem-se novas povoações
sem casais”. Este ninho, antes de contrabandistas
que de soldados, foi talvez o berço de uma
prole sinistra, os gaúchos os gaudérios,
originários da margem esquerda do Prata, famosos
durante largas décadas e ainda não assimilados
de todo à civilização. A quantidade
de meios de sola exportados do Rio no começo
do século XVIII não se explica pela
simples produção indígena nem
por contrabando de Buenos Aires: implica o processo
sumário dos gaúchos na matança
das reses, resultante da abundância e depreciação
do gado vacum, do pululamento da cavalhada e do espaço
indefinido e livre para as correrias.
biblioO tratado de Utrecht mandou restituir a colônia
a Portugal e foi restituída com seu território.
Qual era o seu território? Toda a margem esquerda
do Prata, pretenderam os portugueses; o espaço
alcançado por um canhão da fortaleza,
entendiam os espanhóis. Triunfaram estes. Aqueles
tentaram estabelecer-se em Montevidéu, mas
seus esforços foram perdidos. Também
os espanhóis em 1735 tentaram apossar-se da
colônia e sujeitaram-na a um assédio
aspérrimo de vinte e dois meses. Antônio
Pedro de Vasconcelos, comandante da praça,
resistiu heròicamente e obrigou o inimigo a
retirar-se.
biblioA fundação da colônia do
Sacramento devia servir de ponto de partida para um
povoamento que, partindo do Prata, iria ter à
beira-mar. Este plano falhara; restava o plano contrário:
estabelecer-se na marinha, estender-se pelo interior
até chegar às águas platinas,
em outros termos, povoar o rio de S. Pedro, mais tarde
chamado Rio Grande do Sul.
biblioEm fevereiro de 1737 entrou José da Silva
Pais pelo canal que sangra a lagoa dos Patos e a Mirim.
No local que lhe pareceu mais apropriado desembarcou,
fortificou-se. À sombra da fortaleza foi-se
adensando a população. Dos Açores
vieram várias famílias e agregaram-se
a este núcleo primitivo; as capitanias do Norte
por força ou por vontade forneceram não
poucos colonos.
biblioA rápida expansão do Brasil pelo
Amazonas até o Javari, no Mato Grosso até
o Guaporé e agora no Sul, urgiu a necessidade
de atacar de frente a questão de limites entre
possessões portuguesas e espanholas, no velho
e no novo mundo, sempre adiada, sempre renascente,
interpretando autenticamente o convênio de 1494.
Com este fim, os dois monarcas da península
assinaram um tratado em Madrid a 13 de janeiro de
1750.
biblioAmbas as partes contratantes reconheceram neste
documento ter violado a linha de Tordesilhas, uma
na Ásia, outra na América. Começaram,
portanto, abolindo “a demarcação
acordada em Tordesilhas, assim porque se não
declarou de qual das ilhas do Cabo Verde se havia
de começar a conta das trezentas e setenta
léguas, como pela dificuldade de assinalar
nas costas da América Meridional os dois pontos
ao Sul e ao Norte donde havia de principiar a linha,
como também pela impossibilidade moral de estabelecer
com certeza pelo meio da mesma América uma
linha meridiana”. Na mesma ocasião aboliram
quaisquer outras convenções referentes
a limites, que exclusivamente seriam regidos pelo
tratado agora assinado:
biblioA linha meridiana, até então vigente
pelo menos nos instrumentos públicos, seria
substituída por limites naturais, tomando por
balisas as passagens mais conhecidas para que em tempo
nem um se confundam, nem dêem ocasiões
a disputas, como são a origem e curso dos rios
e os montes mais notáveis. Salvo mútuas
concessões inspiradas por conveniências
comuns para os confins ficarem menos sujeitos a controvérsia,
ficaria cada parte com o que atualmente possuísse.
biblioMaior importância que às terras
prestou-se ao aproveitamento dos rios. Estabeleceu-se
que a navegação seria comum quando cada
um dos reinos tivesse estabelecimentos ribeirinhos;
se pertencessem à mesma nação
ambas as margens, só ela poderia navegar pelo
canal. Para ficar com a navegação exclusiva
do Prata, a Espanha trocou a colônia do Sacramento
pelas missões do Uruguai. Encarregadas de assentar
os limites iriam duas tropas de comissários,
uma pelo Amazonas, outra pelo Prata.
biblioDa comissão do Amazonas foi plenipotenciário
e principal comissário português Francisco
Xavier de Mendonça Furtado, irmão do
marquês de Pombal. Como vimos, já exercia
o cargo de governador do Pará, quando foi nomeado
para o trabalho das demarcações. A 2
de outubro de 1754 saiu para o rio Negro, levando
em sua companhia setecentas e noventa e seis pessoas,
distribuídas em vinte e cinco barcos. Escolheu
para residência a aldeia de Mariuá, chamada
mais tarde Barcelos, e nela mandou construir aposentos
para acomodar a partida espanhola. À frente
desta, de estado-maior ainda mais numeroso, partiu
de Cádiz d. José de Iturriaga, a 13
de janeiro do mesmo ano, e chegou ao Orinoco aos fins
de julho. Em 1756 fundou São Fernando de Atabapo,
para escala da grande peregrinação e
caixa de víveres. Daí por diante, arcando
com o áspero sertão despovoado, tais
embaraços encontrou, apesar das ordens mais
expressas e das facilidades extraordinárias
proporcionadas por seu governo, que gastou anos no
caminho.
biblioA partida de Mendonça tinha de se ocupar
de três questões principais: a do rio
Negro, a do Japurá e a do Madeira e Javari;
a cada uma caberia uma tropa. Tomou as providências
necessárias para organizá-las e como
Iturriaga continuasse ausente, voltou em 756 para
Belém com os engenheiros da demarcação,
onde absorveram-no outras preocupações
mais instantes.
biblioEm janeiro de 758, recebendo aviso da próxima
chegada dos comissários espanhóis, dirigiu-se
novamente para Barcelos. Com efeito, no ano seguinte
ali se apresentaram d. José de Iturriaga e
seu grandioso séquito de comissários,
matemáticos, engenheiros, desenhistas. Quase
ao mesmo tempo chegou a notícia da substituição
de Mendonça na capitania do Pará e no
trabalho dos limites, que daí em diante seria
dirigido da parte de Portugal por Antônio Rolim
de Moura, governador de Mato Grosso, mais tarde vice-rei
do Brasil e conde de Azambuja. No mesmo dia e hora
da partida de Mendonça Furtado para a capital
os comissários espanhóis volveram ao
Orinoco. Tal é pelo menos a versão referida
por Baena. Os escritores venezuelanos e colombianos
contestam o encontro dos dois comissários e,
parece, com melhores fundamentos.
biblioDepois de tantos anos e de tantas canseiras
nem um passo se dera para realizar o ideal afagado
pelo tratado de Madrid. Para os interesses de Portugal
a solução não foi desvantajosa:
estribado no uti possidetis, dando-lhe uma extensão
inconciliável com o tratado de Madrid, pôde
agora satisfazer a sua avidez de terras.
biblioNo tempo de Mendonça instalou-se a capitania
de S. José de Javari. Mandara-lhe a coroa assentar
a capital no Solimões próximos dos limites
ocidentais; ele achou mais conveniente situá-la
no rio Negro, donde os espanhóis estavam muito
afastados, como o provara a lenta marcha de Iturriaga.
Aí, portanto, a expansão se faria sem
tropeços. Além disso, a proximidade
relativa de Belém e de Portugal garantia uma
superioridade esmagadora. Em seu tempo foram fundados
o forte de Marabitanas no rio Negro, o de S. Joaquim
na confluência de Uraricoera e Tacutu, cabeceiras
do Branco.
biblioPelas instruções, a tropa de comissários
destinados à demarcação do Sul
devia subdividir-se em três troços: um
reconheceria o terreno desde Castilhos Grandes até
a barra do Ibicuí, no Uruguai; outra o Uruguai
desde o Ibicuí até o Pepiri-guaçu
e, passada sua contravertente, desceria o Iguaçu
até marcar a barra do Igureí, aquele
afluente oriental, este ocidental do Paraná;
a terceira deveria demarcar o Igureí em todo
o curso, por seu concabeçante descer para o
Paraguai e subir por este até a barra do Jauru.
biblioAs duas últimas tropas deram conta de
sua comissão pacìficamente; a primeira
andou com menos fortuna. Em troca da colônia
do Sacramento e navegação exclusiva
do Prata, a Espanha cedera a Portugal a navegação
do Uruguai com os sete povos das missões jesuíticas:
São Nicolau, São Miguel, São
Luís Gonzaga, São Borja, São
Lourenço, São João e Santo Ângelo,
fundados entre 1687 e 1707, alguns com os restos de
reduções que escaparam à sanha
dos mamalucos. Ceder terras com habitantes é
amputação dolorosa, ainda hoje praticada;
entregar as terras, deixando os bens de raiz, levando
os moradores apenas os móveis e semoventes
reporta à crueza dos Assírios. Entretanto
as duas cortes julgaram consumar facilmente este ultraje
à humanidade se os jesuítas as ajudassem,
pesando sobre o espírito dos índios.
Os jesuítas acreditaram-se poderosos para tanto
e bem caro pagaram este acesso de fraqueza ou de vaidade:
quando os índios se levantaram, desmentindo
ou antes engrandecendo seus padres, mostrando que
a catequese não fora mera domesticação
e a vida anterior vibrava-lhes na consciência,
aos jesuítas foi atribuída a responsabilidade
exclusiva em um movimento natural, humano e por isso
mesmo irresistível.
biblioOs chefes da missão demarcadora do Sul,
Gomes Freire de Andrada por parte de Portugal, o marquês
de Valdelirios pela de Espanha, encontraram-se na
fronteira marítima do Rio Grande do Sul em
começo de setembro de 1752, e no mês
seguinte iniciaram os trabalhos. Em janeiro, assentado
o terceiro marco, Gomes Freire ausentou-se para a
colônia do Sacramento e o marquês para
Montevidéu. A primeira partida luso-espanhola
continuou na tarefa, que deveria se estender até
a barra do Ibicuí; mas ao chegar a Santa Tecla,
dependência do povo de São Miguel, situado
um pouco ao Norte da atual cidade de Bagé,
defrontou índios armados que se opuseram a
seu avanço. Fora prevista a hipótese
e havia ordem dos dois governos para domar a resistência
pelas armas, pois os jesuítas já se
haviam felizmente convencido de sua impotência.
biblioReunidos Gomes Freire e Valdelirios na ilha
de Martim Garcia, resolveram mandar emissários
às missões a ver se ainda era possível
conciliar os índios. Se eles continuassem teimosos,
marchariam Andonaegui, governador de Buenos Aires,
pelo Uruguai até São Borja, e Gomes
Freire pelo rio Pardo até Santo Ângelo.
Depois de tomadas estas duas reduções,
prosseguiriam até se encontrar. Em março
de 54 Andonaegui pôs-se em movimento, mas o
mau estado da cavalhada e outras causas não
menos fortes obrigaram-no a recuar até Daiman,
junto à presente cidade do Salto. Aí
os índios atacaram os espanhóis e perderam
trezentos homens, dos quais duzentos e trinta mortos,
canhões, armas brancas e cavalhada. Menos feliz
foi Gomes Freire, obrigado a assinar um armistício
com os levantados a 18 de novembro.
biblioViu-se que melhor andariam unidos os dois exércitos.
Partiu Gomes Freire do rio Pardo e em Sarandi, no
rio Negro, juntou-se às forças de Andonaegui.
A 21 de janeiro de 56 marcharam para as missões.
Quase só encontraram os obstáculos criados
pela natureza. Os índios, embora numerosos,
mal armados, mal ou antes não dirigidos, pouca
resistência podiam oferecer; de todos os reencontros
saíram derrotados. A 17 de maio entregou-se
São Miguel sem resistência, e os outros
povos foram seguindo-lhe o exemplo. Podia-se agora
operar a permuta, Gomes Freire empossar-se das sete
missões e entregar a colônia do Sacramento.
Não se fez isto; dir-se-ia que, como os primitivos,
estes mamalucos póstumos tinham por móvel
único a destruição. Em janeiro
de 59 Gomes Freire embarcou para o Rio, donde não
mais voltou.
biblioEntretanto, falecia Fernando VI, subia ao trono
Carlos III, inimigo do tratado de 1750 desde o tempo
de seu reinado em Nápoles. Um dos primeiros
cuidados do novo rei foi anulá-lo pelo pacto
firmado no Pardo, a 12 de fevereiro de 1761. Ficaram
outra vez de pé todos os atos reguladores de
limites, a principiar pelo de Tordesilhas, tantas
vezes desrespeitado por ambas as partes, como de público
haviam reconhecido poucos anos antes. O tratado de
Madrid, exatamente porque resolvia uma questão
secular, fora atacado com violência em ambas
as cortes e a cordialidade dos dois monarcas que o
assinaram não teve eco nos respectivos povos.
Agora com razão condenavam-no os representantes
dos dois governos à vista de seus resultados,
fáceis de evitar, a não ser a cláusula
bárbara relativa aos sete povos do Uruguai:
“estipulado substancial e positivamente para
estabelecer uma perfeita harmonia entre as duas Coroas
e uma inalterável união entre os vassalos
delas, se viu pelo contrário que desde o ano
de 1752 tem dado e daria no futuro muitos e muito
frequentes motivos de controvérsias e contestações
opostas a tão louváveis fins”.
biblioA insistência de Portugal em não
aderir ao famoso pacto de família, dirigidos
pelos Bourbons contra a Inglaterra, desencadeou as
hostilidades na península e nos domínios
da América do Sul. Pedro Cevallos, sucessor
de Andonaegui no governo de Buenos Aires, pôs
cerco à colônia do Sacramento em outubro
de 62 e tomou-a sem grande esforço. Dirigiu-se
depois às plagas rio-grandenses, num passeio
militar apossou-se do forte de Santa Teresa próximo
ao Chuí, da vila capital, da margem setentrional
da lagoa dos Patos. Um convênio assinado no
povo de São Pedro em 6 de agosto de 1763 declarou
o porto privativo do domínio da Espanha, fechado,
portanto, ao comércio de qualquer outra nação.
biblioO tratado concluído em Paris a 10 de
fevereiro 763 mandou voltarem as cousas ao estado
anterior à guerra. Cevallos restituiu a colônia
do Sacramento, guardou o Rio Grande, deixando os portugueses
reduzidos à fortaleza do rio Pardo e às
cercanias de Viamão. Mesmo estas nesgas procurou
retirar-lhes Vertiz y Salcedo, novo governador de
Buenos Aires, atacando o rio Pardo em 773, não
com tanta felicidade como esperava.
biblioPortugal fingiu aceitar a situação
criada por Cevallos, mas foi se preparando manhosamente
para modificá-la em seu proveito. Readquiriu,
sem combate, S. José do Norte à entrada
da barra; a pouco e pouco mandou forças por
terra; uma esquadra entrou pelo canal apesar das fortalezas
inimigas; em março de 76, combinadas as forças
de terra e mar atacaram e tomaram as fortificações
dos castelhanos; em abril a vila de São Pedro
foi evacuada. O domínio espanhol durava treze
anos: data dele a fortuna do porto dos Casais, hoje
Porto Alegre.
biblioMuitos dos colonos portugueses transplantados
para além do Chuí não tornaram
mais para as antigas estâncias.
biblioApenas chegou ao velho mundo a notícia
da reconquista do rio de S. Pedro, preparou-se em
Espanha uma forte armada para tirar a desforra. Comandava-a
Cevallos, nomeado para assumir o vice-reinado do Prata,
então criado. Deveria tomar Santa Catarina,
Rio Grande e Sacramento. Santa Catarina entregou-se
logo sem resistência; na colônia propuseram
a entrega apenas se apresentou o inimigo. O Rio Grande
ficou livre de ser acometido por via marítima
graças aos ventos contrários; quando
ia ser atacado por via terrestre, chegou ordem de
suspender as hostilidades. Cevallos, como se votasse
ódio pessoal à Colônia do Sacramento,
secular pomo de discórdia entre os dois povos,
não quis deixar pedra sobre pedra. A 8 de junho
de 77 começou a demolição pela
fortaleza; foram depois destruídas as casas,
o porto obstruído; as famílias que não
quiseram recolher-se ao Brasil, transportadas para
Buenos Aires, distribuíram-se pelo caminho
do Peru.
biblioExpirava a este tempo José I, extinguia-se
o poderio do truculento Pombal, pela primeira vez
uma rainha ascendia ao trono português; todos
estes motivos devem ter influído certa brandura
no tratado de limites firmado em Santo Ildefonso a
1 de outubro de 1777, em quase tudo semelhante ao
de Madrid, e mais humano e generoso que este, pois
não impunha êxodos cruentos.
biblioO uti possidetis, reconhecido em 1750, anulado
em 761, veio outra vez a prevalecer. Se não
se explicasse pela superioridade relativa das posições
portuguesas nas zonas litigiosas, seria uma das ironias
da história averiguar que do mero apego à
posse das Filipinas procederam todas as concessões
por parte da Espanha.
biblioAs modificações mais notáveis
apanharam a fronteira meridional. Espanha não
concordou mais que Portugal tivesse direito a navegar
no Uruguai e por isso impôs uma fronteira tal
que as possessões portuguesas só abeirassem
o rio ao Oriente do Pepiri-guaçu. Desenvolvendo
um princípio já formulado no tratado
de Madrid, cujo artigo 22 não permitia fortificações
nem povoações nos cumes das raias, a
partir das lagoas Mirim e da Mangueira, o tratado
de Santo Ildefonso estabeleceu no artigo 6 “um
espaço suficiente entre os limites de ambas
as nações, ainda que não seja
de igual largura à das referidas lagoas, no
qual não possam edificar-se povoações,
por nenhuma das duas partes, nem construir-se fortalezas,
guardas ou postos e tropas, de modo que os tais espaços
sejam neutros, pondo-se marcos e sinais seguros, quer
façam constar aos vassalos de cada nação
o sítio, de que não deverão passar;
a cujo fim se buscarão os lagos e rios, que
possam servir de limite fixo e inalterável,
e em sua falta o cume dos montes mais sinalados, ficando
estes e as suas faldas por termo natural e divisório,
em que se não possa entrar, povoar, edificar
nem fortificar por alguma das duas nações”.
biblioPara o trabalho de demarcar a fronteira foram
criadas quatro divisões: operaria a primeira
do Chuí ao Iguaçu; a segunda de Igureí
ao Jauru; a terceira do Jauru ao Japurá; a
quarta daí ao rio Negro. Pela parte de Portugal
ficaram dependentes do vice-rei no Rio, dos governadores
de S. Paulo, Mato Grosso e Pará. O trabalho
efetuado limitou-se à fronteira do Chuí
ao Iguaçu, e do Javari ao Japurá, isto
durante anos de argúcias, dilações,
inação, de que cada nação
lançava à outra a culpa exclusiva. As
divisões confiadas aos governadores de S. Paulo
e Mato Grosso nunca se encontraram com as divisões
espanholas. Poder-se-ia dizer que com isso ganhou
a geografia das respectivas regiões, pois os
cientistas exploraram rios, descreveram plantas e
animais, enviaram curiosos espécimes dos três
reinos para os estabelecimentos de além-mar...
poder-se-ia dizê-lo, se tais trabalhos, ciosamente
guardados, fossem dados então à publicidade.
biblioDois episódios mostrarão como
as cousas passaram.
biblioO tratado de Madrid nos artigos 5.º e 6.º,
repetidos pelo Santo Ildefonso nos artigos 8.º
e 9.º, dispunha que a fronteira desde a barra
do Iguaçu prosseguiria pelo álveo do
Paraná acima, até onde pela parte ocidental
se lhe ajuntasse o Igureí, acompanharia este
até descer o concabeçante mais próximo,
afluente do Paraguai, chamado talvez Corrientes.
biblioPróximo do Iguaçu não desemboca
pela margem ocidental do Paraná rio chamado
Igureí, próprio a servir de fronteiras,
alegou Sá e Faria, português passado
agora para o serviço de Castela; rio Corrientes
tão pouco se conhece no Paraguai. Convencionou-se,
pois, que a fronteira partiria do Iguatemi, primeiro
afluente oriental do Paraná, acima das Sete
Quedas. Mais tarde, o vice-rei do Brasil escreveu
ao do Prata que a convenção fora condicional,
para a hipótese de não existir o Igureí;
ora, Igureí existia abaixo das Sete Quedas.
Cândido Xavier o descobriu e o seu correspondente
no Paraguai é o Jejuí. Pelo Igureí
e pelo Jejuí devia passar portanto a linha
divisória.
biblioTem a razão o vice-rei do Brasil, respondia
Félix de Azara, comissário espanhol;
a convenção foi condicional e desaparece
apurada a existência do Igureí; mas o
Igureí existe: é o Iaguareí,
Monici ou Ivinheima, e corresponde-lhe pelo Paraguai
outro rio caudaloso, que desemboca aos 22º. Isto,
acrescentava, nos dará as únicas terras
não inundadas daquelas regiões; teremos
ervais, barreiros, salinas, pastos, aguadas, madeiras;
as frotas de Cuiabá e Mato Grosso cairão
em nossas mãos na boca do Taquari, ou mais
acima; podemos na paz chupar suas riquezas por um
comércio que há de ser-nos vantajoso
sem prejuízo; os famosos estabelecimentos de
Mato Grosso, Cuiabá e serra do Paraguai serão
precários a seus ilegítimos donos e
alfim cairão em nossas mãos com o tempo.
“No es posible que no tengamos las minas de
Cuyabá y Mato groso, cuando las podemos atacar
com fuerzas competentes, llevadas por el mejor rio
del mundo, sin que los portugueses puedan sostenerlas
ni llegar á ellas, sino por el embudo obstruido
del rio Tacuari, en canoas y con los trabajos que
nadie ignora”.
biblioSeriam melhores os portugueses? O caso Chermont-Requena,
narrado brevemente, responderá de modo satisfatório.
biblioTinham os comissários de demarcar a fronteira
do Javari à boca mais ocidental do Japurá
e seguir por este acima até um rio que resguardasse
os estabelecimentos portugueses do rio Negro. A boca
mais ocidental do Japurá originou graves discussões,
por um chamar boca o que o outro considerava furo,
isto é, um canal que levava as águas
do Solimões ao Japurá em vez de trazê-las.
O rio que devia resguardar as possessões portuguesas
do rio Negro seria o Apaporis, o Comiari ou dos Enganos,
ou qualquer outro? Nunca se decidiu, à vista
dos múltiplos varadouros, imaginários
ou verdadeiros, alegados por parte de Portugal. Em
todo caso, Tabatinga demorava a Oeste da mais ocidental
das bocas do Japurá, demorava mesmo a Oeste
do Içá, não compreendido nas
pretensões portuguesas mais exageradas; quando,
porém, Requena reclamou a posse de Tabatinga,
Chermont negou-se a assumir responsabilidade tão
grave e declinou da sua para a competência de
João Pereira Caldas, chefe daquela divisão.
Este declarou-se prestes a fazer a entrega de Tabatinga
se os espanhóis lhe entregassem São
Carlos, forte do alto rio Negro, fundado na expedição
de D. José de Iturriaga, malogrado comissário
da primeira demarcação.
biblioNestes dares e tomares consumiu Requena um decênio.
Afinal conseguiu de seu rei licença de voltar
para a Europa, e o de Portugal permitiu-lhe que descesse
até o Pará. “De ordem do governador
do Rio Negro o acompanhou o tenente-coronel engenheiro
José Simões de Carvalho com a recomendação
secreta de dirigir a viagem de maneira que ele não
visse povoação alguma, nem pudesse tomar
nota topográfica de qualquer ponto do Amazonas.
Destina-lhe o governador [do Pará] para sua
morada a fazenda de Val de Cães. Ali o teve
como em custódia até prosseguir a viagem,
permitindo-lhe vir à cidade [de Belém]
só de noite, e acompanhado de um oficial de
tropa regular quando intentava fazer-lhe visitação,
na qual também era recebido pelos cidadãos
mais qualificados que segundo a disposição
do governador o esperavam em grande cerimônia”.
biblioEm suma, valiam-se bem os comissários
das duas altas partes contratantes. Teria razão
ou talvez não tenha quem afirmasse sua má
fé; entretanto, uma o outra opinião
seria superficial. Os termos dos tratados prestavam-se
às vezes a mais de uma interpretação;
os mapas trazidos do reino aplicavam-se mal aos terrenos;
nem destes nem daqueles resultava uma hermenêutica
forçada; cada funcionário procurava
ostentar zelo, isto é, adiantar sua carreira.
E em nome destes seres heterônomos ainda hoje
nossos vizinhos propagam e herdam o ódio ao
Brasil desde os bancos escolares! Felizmente no Brasil
já não somos prisioneiros destas paixões
inferiores de colonos fossilizados.
biblioPortugal saiu mais favorecido da sorte por ter
criado a capitania independente de Mato Grosso logo
depois do tratado de 1750 e a capitania subordinada
do Rio Negro em seguida. De Vila Bela via-se bem claro
que o problema decompunha-se em duas partes: absorver
a navegação do Madeira, paralizando
as hostilidades das vizinhas aldeias dos Moxos e dos
Chiquitos, — e isto fez principalmente o conde
de Azambuja; passar além dos Xarais, até
onde o Paraguai não transborda do leito, limitando
assim as possibilidades dos ataques e surpresas, garantindo
ao mesmo tempo a navegação de S. Paulo,
— isto fizeram Luís de Albuquerque, com
a fundação de Corumbá e Coimbra,
e Caetano Pinto com a de Miranda. Na capitania subalterna
Mendonça Furtado sentiu a importância
capital do rio Negro e do rio Branco; escolhendo Barcelos
para capital, assinalou nitidamente o rumo a seguir
pelos sucessores. Tanto em Mato Grosso como no rio
Negro houve pequenos conflitos sem importância,
de que os espanhóis não tiraram o melhor
partido e os portugueses puderam continuar na sua
maneira original de entender e aplicar o uti possidetis.
biblioOs debates inanes das demarcações
ainda continuavam em 1801 ao rebentar a guerra entre
Portugal e Espanha. Ipso facto, caducaram os tratados.
José Borges do Canto, desertor do regimento
dos dragões, e Manuel dos Santos Pedroso, sem
ordem de ninguém, congregaram um troço
de aventureiros, e atiraram-se contra os sete povos
do Uruguai. Foram, viram, venceram; voltou novamente
a ser lindeiro o rio Ibicuí.
biblioDepois disto não houve mais questões
sobre limites americanos entre as duas metrópoles
peninsulares.
biblioO histórico dos limites com a França
e Holanda, desde o rio Branco a Oeste até o
cabo de Orange a Este, conta-se em poucas palavras.
biblioA capitania do cabo do Norte, doada a Bento
Maciel Parente, foi limitada a beira-mar pelo rio
Vicente Pinzon, cuja denominação indígena
é Oiapoque. Apenas se fixaram em Caiena, os
franceses lançaram olhos cobiçosos sobre
o Amazonas, e reclamaram-no como limite.
biblioPara afirmar seus direitos, em 1697 tomaram
os fortes portugueses de Araguari, Toeré e
Macapá, logo retomados. Um tratado provisional
assinado em 1701 neutralizou o território,
mas o de Utrecht restituiu-o aos portugueses. Pelo
inequívoco artigo 8, Sua Majestade Cristianíssima
desistiu “pelos termos mais fortes e mais autênticos
e com todas as cláusulas que se requerem, assim
em seu nome como de seus descendentes, sucessores
e herdeiros de todo e qualquer direito e pretensão
que pode ou poderá ter sobre a propriedade
das terras chamadas do cabo Norte, e situadas sobre
o rio dos Amazonas e o de Japoc ou de Vicente Pinsão,
sem reservar ou reter porção alguma
das ditas terras, para que elas sejam possuídas
daqui em diante por Sua Majestade Portuguesa”,
etc.
biblioA disposição por sua clareza não
permitia dúvidas; os franceses acharam meio
de perpetuá-las, descobrindo mais de um Vicente
Pinzon e mais de um Oiapoque, de modo a aproximarem-se
o mais possível do Amazonas, seu verdadeiro
e constante objetivo. Isto lograram durante a revolução
francesa e o império. O tratado de Paris, de
23 Thermidor V, traçou o limite pelo Calçoene
até as cabeceiras e destas por uma reta até
o rio Branco. O de Badajoz de 6 de junho de 1801 transportou-o
para o Araguari, desde a foz mais apartada do cabo
do Norte até a cabeceira e daí até
o rio Branco. O de Madrid de 29 de setembro do mesmo
ano fixou-o no Carapanatuba desde a foz até
as cabeceiras, donde acompanharia as inflexões
da serrania divisora das águas até o
ponto mais próximo do rio Branco, cerca de
2º 1/3 N. O de Amiens de 27 de março de
1802 trouxe-o novamente para o Araguari. Todos estes
tratados caducaram com o de Fontainebleau, que desmembrou
Portugal e produziu a trasladação da
corte portuguesa para o Brasil.
biblioDepois de na era de 1750 terem passado do rio
Branco para o Rupununi, os portugueses aproximaram-se
das possessões holandesas. Nunca entretiveram,
porém, contacto, ou travaram conflitos com
elas, nem convenção alguma interveio
entre as duas metrópoles.