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Eduardo Ramos (E. Pires R.), advogado, jurista, político, cronista e poeta, nasceu em Salvador, BA, em 25 de maio de 1854, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 15 de maio de 1923. Eleito em 3 de agosto de 1922 para a Cadeira n. 11, na sucessão de Pedro Lessa, não chegou a tomar posse. Deveria ser saudado por Augusto de Lima.
Fez seus estudos nas Faculdades de Direito de São Paulo e de Recife, bacharelando-se em ciências jurídicas aos 18 anos. Começou a vida profissional como promotor público na comarca de Feira de Santana, BA, vindo a ocupar posteriormente o posto de diretor-geral da Instrução Pública da Bahia. Ali teve ocasião de mostrar seu interesse pelo problema da educação, inteiramente negligenciado naquele tempo, apresentando um Relatório onde as questões do ensino primário foram tratadas de um modo inteiramente novo para a época. Em 1903, veio para o Rio de Janeiro como deputado pelo seu Estado. Eleito senador, tomou parte da primeira Constituinte na organização da República. Fez parte da Comissão de Diplomacia e Tratados e o seu nome ilustra vários pareceres, notadamente o relativo ao Tratado de Petrópolis, de 1904. Distinguiu-se entre os parlamentares pelo fulgor do talento, pela sedução da palavra, que conquistava as simpatias para os projetos de alto alcance que apresentava. Foi seu o projeto da criação da Universidade na capital da União, na qual depois foi catedrático de Legislação Comparada.
Deve-se a Eduardo Ramos a apresentação de um projeto, convertido em lei, reconhecendo a Academia Brasileira de Letras como instituição de utilidade pública. Contudo, tendo se tornado notável entre os escritores de sua época, e sido, pelo projeto apresentado, um dos fundadores da Academia, só conseguiu entrar na Casa de Machado de Assis no fim da vida. O próprio feitio de Eduardo Ramos explica, em parte, a estranheza do fato de ter duas vezes fracassado sua candidatura. Evitou trabalhar para a própria vitória. Sabia que tinha direitos adquiridos pelo que havia trazido de novo e interessante às letras brasileiras e pelos serviços prestados à instituição. Enquanto os que pretendiam a mesma vaga esforçavam-se por assegurar alguns votos, Eduardo Ramos resolvia esperar tranqüilamente a justiça dos homens. Na sua linha inflexível de conduta, preferia ser vencido no pleito que tanto o interessava, do que transgredir seus princípios com a elegância moral que o caracterizava. Eleito, finalmente, já não lhe foi possível tomar posse da cadeira que lhe coube, mas não deixou, por isso, de se imortalizar como homem de letras.
De sua prosa ficaram alguns livros, em que reuniu as crônicas publicadas na imprensa, assinadas também sob os pseudônimos Erasmo e Deaudor Mosar. Nesses livros de assuntos vários, o escritor comenta fatos, sugere idéias, ventila questões através da agudeza do seu espírito de psicólogo, mordaz algumas vezes, irônico muitas outras, revelando sempre a originalidade da personalidade e a elegância do sentimento. Sua poesia encontra-se esparsa, em algum álbum ou em jornais da época. Conheceram-na apenas ou amigos que se reuniam em sua casa, para ouvi-lo dizer, com uma arte peculiar, aqueles versos simples que traziam a originalidade da idéia na elegância da forma.
Obras: A instrução primária na Bahia, relatório (1902); Correspondência, notas e colóquios de Erasmo, crônicas (1914); Prosas de Cassandra, crônicas (1918); Retalhos e bisalhos, crônicas (1923).