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Salvador de Medonça (S. de Menezes Drummond Furtado de M.), jornalista, advogado, diplomata, romancista, ensaísta, poeta, teatrólogo e tradutor, nasceu em Itaboraí, RJ, em 21 de julho de 1841, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 5 de dezembro de 1913. Na sessão de instalação da Academia Brasileira de Letras, em 28 de janeiro de 1897, foi um dos nomes escolhidos para completar o quadro dos fundadores. Criou a Cadeira n. 20, que tem como patrono Joaquim Manuel de Macedo.
Era filho do comendador Salvador Furtado de Mendonça, dos Açores e de Portugal, e de Amália de Menezes Drummond, descendente dos Drummond da Escócia. Dela recebeu os rudimentos de sua educação, iniciando-se no conhecimento das línguas, da música e do desenho. Depois de freqüentar uma escola pública em Itaboraí, foi para a Corte, aos 12 anos, continuar seus estudos no Colégio Marinho e, por dois anos, no Colégio Curiácio, dirigido pelo Barão de Tatuphoeus. Ao terminar os preparatórios, em 1858, o Barão de Tatuphoeus levou-o à presença de Pedro II, como um prêmio aos seus esforços de estudioso. Por essa época conheceu figuras como Machado de Assis, com quem fez amizade e manteve convívio diário, e Casimiro de Abreu. Conheceu também escritores já consagrados, como Gonçalves Dias, Araújo Porto-Alegre e Joaquim Manuel de Macedo, que Salvador haveria de escolher como patrono.
Em 1859, foi para São Paulo para matricular-se na Faculdade de Direito. Iniciou a sua colaboração na Revista Mensal do Ensaio Filosófico Paulistano. Ali publicou a poesia "Singairu, lenda das margens do Piraí, 1567". É um episódio de formação do nosso país. No ano seguinte fundou, com Teófilo Ottoni Filho, o jornal A Legenda. Ali iniciou-se nos assuntos de crítica social e política. Em fins de 1860 faleceram seus pais e Salvador voltou para o Rio de Janeiro, como chefe de uma família de oito irmãos, entre os quais Lúcio de Mendonça. Entrou para a redação do Diário do Rio de Janeiro, de Saldanha Marinho. Em 1861, casou-se com Amélia Clemência Lúcia de Lemos. Tornou-se professor de Latim e iniciou atividades em outros jornais: no Jornal do Commercio fazia a crítica teatral e no Correio Mercantil, a "Semana Lírica". Simultaneamente ia criando a sua obra de teatro.
Em 1865, foi encarregado pelo Marquês de Olinda de reger a cadeira de Coreografia e História do Brasil no Imperial Colégio Pedro II, em substituição a Joaquim Manuel de Macedo. Em 1867, regressou a São Paulo para concluir o curso de Direito. Assumiu o cargo de diretor de O Ipiranga, órgão do Centro Liberal de São Paulo, e nessa atividade iniciou a propaganda republicana no Brasil. Graduado em 1869, voltou para o Rio e, com Saldanha Marinho, foi trabalhar como advogado. Em 1870 fundou-se o Clube Republicano, organização devida a Saldanha Marinho, Salvador de Mendonça e Quintino Bocaiúva. Foi então redigido o histórico "Manifesto de 70", cujo capítulo "A verdade democrática" é de autoria de Salvador de Mendonça. Fundou-se também o jornal A República, em cuja redação se congregavam Quintino Bocaiúva, Salvador, Aristides Lobo, Lafayette, Pedro Soares de Meireles e Flávio Farnese.
Nos anos seguintes, Salvador dedicou-se também a traduzir obras de autores franceses para a Casa Garnier. Em 1875, publicou o primeiro e único romance, Maraba. No mesmo ano ficou viúvo. Nomeado cônsul privativo do Império em Baltimore, logo depois foi nomeado para o consulado de Nova York e, em 3 de maio de 1876, foi promovido a cônsul geral do Brasil nos Estados Unidos. No ano seguinte casou-se com a norte-americana Maria Redman.
Em 6 de julho de 1889 foi nomeado enviado extraordinário e ministro plenipotenciário em missão especial nos Estados Unidos e delegado do Brasil à 1a Conferência Internacional Americana. Achava-se neste posto, e tinha como chefe Lafayette Rodrigues, quando foi proclamada a República no Brasil. Tomou a defesa do regime implantado pelo marechal Deodoro. A ele a República deveu o seu fácil e pronto reconhecimento pelos Estados Unidos.
Em 12 de abril de 1890, foi exonerado, a pedido, de cônsul geral do Brasil em Nova York, mas continuou nos Estados Unidos como ministro em missão especial. Exonerado desse cargo em 18 de dezembro de 1890, por se achar finda a missão especial, foi imediatamente nomeado enviado extraordinário e ministro plenipotenciário de 1a classe em Washington. Ainda grande foi o serviço que lhe deveu a República quando, em 1893, explodiu a revolta da Armada. Salvador logrou evitar que os Estados Unidos reconhecessem os diretos de beligerantes aos revoltosos, o que teria complicado a situação florianista.
Por ato de 3 de março de 1898, Salvador de Mendonça foi removido da legação do Brasil em Washington para a de Lisboa. Por ocasião de sua saída dos Estados Unidos, pôde ele constatar, não só nas palavras do presidente Mac Kinley, mas também nos artigos de todos os jornais americanos, o quanto era apreciado o seu espírito de "amigo da América", de "grande pan-americano". Entretanto, a sua remoção para Lisboa não foi aprovada pelo Senado, e ele foi exonerado desse cargo. Em 10 de setembro de 1903, por ato do presidente Rodrigues Alves, foi considerado em disponibilidade desde 1898. Encarregou-se, então, de trabalhos de tradução e, nos últimos anos, já cego, escrevia artigos para O Imparcial e O Século, comentando a diplomacia brasileira e recapitulando a sua própria carreira em Washington. Pouco antes do seu falecimento, publicou os volumes Coisas do meu tempo, reunindo os artigos saídos em O Imparcial, e A situação internacional do Brasil, reunindo os artigos publicados em O Século.
No conjunto de sua obra, os escritos políticos têm uma importância primordial, embora algumas de suas idéias sejam discutíveis, como a que preconizava, com o mais vivo entusiasmo, a vinda de chineses para o Brasil. Uma de suas campanhas mais vivazes na imprensa, na última fase de sua vida, foi no sentido de evitar que o Brasil permitisse, como o estava permitindo, a criação de vastos quistos germânicos no Sul do país. Outro problema contra o qual se pronunciou foi a aquisição de terras brasileiras pelo Sindicato Farquhar.
Como poeta, Salvador de Mendonça, que parece ter feito a formação intelectual na poesia de Gonçalves Dias e Casimiro de Abreu, é um legítimo continuador dos românticos. Seus versos de mocidade, perdidos em velhas coleções de jornais do Rio e de São Paulo, têm características dos poetas do fim do Romantismo. Há, porém, em sua poesia aspectos que o distinguem, como o intenso sentimento da terra, da gente e da paisagem do Brasil.
Obras: Singairu, poesia (1859); O romance de um moço rico, comédia-drama (1860); A herança, comédia-drama (1861); Joana de Flandres, ou A volta do cruzado, tragédia lírica (1863); Regeneração, panfleto político (1866); A verdade democrática, capítulo do Manifesto de 1870; Maraba, romance, com prefácio de José de Alencar (1875); Cartas americanas, colaboração em O Cruzeiro (1878-1883); Cartas dos Estados Unidos, colaboração no Diário da Bahia (1880-1881); Imigração chinesa, coletânea de artigos para O Cruzeiro (1881); A revolta da Armada (1893): Lendas da Serra e da Baixada, poesia (1910); Coisas do meu templo, artigos publicados em O Imparcial (1913); A situação internacional do Brasil, artigos publicados em O Século. A bibliografia de Lúcio de Mendonça constitui-se ainda de sua crítica musical no Jornal do Commercio (1861-1863), da crítica teatral na "Semana Lírica", no Correio Mercantil (1863); e de inúmeras outras colaborações na imprensa. Também traduziu dezenas de obras do francês e do inglês. Fez uma tradução de A retirada da laguna, do Visconde de Taunay, para o Ministério da Guerra (1874).