Celso Monteiro Furtado nasce a 26 de julho de 1920 em Pombal, no sertão paraibano, filho de Maria Alice Monteiro Furtado, de família de proprietários de terra, e Maurício de Medeiros Furtado, de família de magistrados. Após seus estudos secundários no Liceu Paraibano e no Ginásio Pernambucano do Recife, chega ao Rio em 1939, entra para a Faculdade Nacional de Direito e começa a trabalhar como jornalista na Revista da Semana. Em 1943, é aprovado no concurso do DASP para assistente de organização, indo trabalhar no Rio e em Niterói. No ano seguinte, cursa o CPOR, conclui o curso de Direito e é convocado para a Força Expedicionária Brasileira. Com a patente de aspirante a oficial, segue para a Itália, servindo, na Toscana, como oficial de ligação junto ao V Exército norte-americano, e sofre um acidente em missão durante a ofensiva final dos aliados no Norte da Itália.
Em 1946, ganha o prêmio Franklin D. Roosevelt, do Instituto Brasil-Estados Unidos, com o ensaio "Trajetória da democracia na América". Viaja para a França, inscreve-se no curso de doutoramento em economia da Universidade de Paris-Sorbonne, e no Instituto de Ciências Políticas. Envia reportagens para a Revista da Semana, Panfleto e Observador econômico e financeiro, entre outras, narrando sua experiência como integrante de uma brigada francesa de reconstrução de uma estrada na Bósnia, e sua participação no Festival da Juventude em Praga. Em 1948, é feito doutor em economia pela Universidade de Paris, com a tese "L'économie coloniale brésilienne", dirigida por Maurice Byé, obtendo a menção très bien. De volta ao Brasil, retoma o trabalho no DASP e junta-se ao quadro de economistas da Fundação Getúlio Vargas, trabalhando na revista Conjuntura econômica. Casa-se com Lucia Tosi.
Em 1949, instala-se em Santiago do Chile para integrar a recém-criada Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), órgão das Nações Unidas que se transformará na única escola de pensamento econômico surgida no Terceiro Mundo. Nasce seu filho Mário. No ano seguinte, quando o economista argentino Raúl Presbisch assume a secretaria-executiva da CEPAL, é nomeado Diretor da Divisão de Desenvolvimento, e até 1957 cumpre missões em diversos países do continente, como Argentina, México, Venezuela, Equador, Peru e Costa Rica, e visita universidades norte-americanas onde então se inicia o debate sobre os aspectos teóricos do desenvolvimento. É de 1950 seu primeiro ensaio de análise econômica, "Características gerais da economia brasileira", publicado na Revista brasileira de economia, da FGV. Em 1952, "Formação de capital e desenvolvimento econômico" é seu primeiro artigo de circulação internacional, traduzido para o International Economic Papers, da Associação Internacional de Economia.
Em 1953, preside no Rio o Grupo Misto CEPAL-BNDE, que elabora um estudo sobre a economia brasileira, com ênfase especial nas técnicas de planejamento. O relatório do Grupo Misto, editado em 1955, será a base do Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitschek. Em 1954, com um grupo de amigos, cria o Clube de Economistas, que lança a revista Econômica Brasileira. Nasce seu filho André. Em 1956, mora na Cidade do México, em missão da CEPAL. Passa o ano letivo de 1957-58 no King's College da Universidade de Cambridge, Inglaterra, a convite do professor Nicholas Kaldor. Aí escreve a Formação econômica do Brasil, que será seu livro mais difundido.
De volta ao Brasil, desliga-se definitivamente da CEPAL e assume uma diretoria do BNDE. É nomeado, pelo presidente Kubitschek, interventor no Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste. Elabora para o governo federal o estudo "Uma política de desenvolvimento para o Nordeste", origem da criação, em 1959, da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), com sede no Recife. Em 1961, como seu superintendente, encontra-se em Washington com o presidente John Kennedy, cujo governo decide apoiar um programa de cooperação com o órgão, e, semanas depois, com o ministro Ernesto Che Guevara, chefe da delegação cubana à conferência de Punta del Este, para discutir o programa da Aliança para o Progresso. Em 1962 é nomeado, no regime parlamentar, o primeiro titular do Ministério do Planejamento, quando elabora o Plano Trienal apresentado ao país pelo presidente João Goulart por ocasião do plebiscito visando a confirmar o parlamentarismo ou a restabelecer o presidencialismo. No ano seguinte deixa o Ministério do Planejamento e retorna à Superintendência da SUDENE, quando concebe e implanta a política de incentivos fiscais para os investimentos na região.
O Ato Institucional nº 1, publicado três dias depois do golpe militar de 31 de março de 1964, cassa os seus direitos políticos por dez anos. Têm início seus anos de exílio. Ainda em abril, aceita um convite para dar seminários em Santiago do Chile. Meses depois, em New Haven, Estados Unidos, será pesquisador graduado do Instituto de Estudos do Desenvolvimento da Universidade de Yale. Faz conferências em diversas universidades norte-americanas e participa de vários congressos sobre a problemática do Terceiro Mundo. Em 1965, muda-se para a França, a convite da Faculdade de Direito e Ciências Econômicas da Universidade de Paris, e assume a cátedra de professor de Desenvolvimento Econômico. É o primeiro estrangeiro nomeado para uma universidade francesa, por decreto presidencial do general de Gaulle. Permanecerá nos quadros da Sorbonne por vinte anos. Em junho de 1968 vem ao Brasil pela primeira vez após sua cassação, a convite da Câmara dos Deputados. No correr do decênio de 1970, faz diversas viagens a países da África, Ásia e América Latina, em missão de agências das Nações Unidas. No mesmo decênio, é professor-visitante da American University, em Washington, da Columbia University, em Nova York, da Universidade Católica de São Paulo e da Universidade de Cambridge, onde é o primeiro ocupante da cátedra Simon Bolívar e é feito Fellow do King's College. Entre 1978-81, integra o Conselho Acadêmico da recém-criada Universidade das Nações Unidas, em Tóquio. No mesmo período, recebe um mandato do Commitee for Developement Planning, da ONU. Entre 1982-85, como diretor de pesquisas da Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales, dirige em Paris seminários sobre a economia brasileira e internacional.
A partir de 1979, quando é votada a Lei da Anistia, retorna com freqüência ao Brasil, reinsere-se na vida política e é eleito membro do Diretório Nacional do PMDB. Casa-se com a jornalista Rosa Freire d'Aguiar. Em janeiro de 1985 é convidado pelo recém-eleito presidente Tancredo Neves para participar da Comissão do Plano de Ação do Governo. É nomeado embaixador do Brasil junto à Comunidade Econômica Européia, em Bruxelas, assumindo o posto em setembro. Integra a Comissão de Estudos Constitucionais, presidida por Afonso Arinos, para elaborar um projeto de nova Constituição. Em março de 1986 é nomeado ministro da Cultura do governo do presidente José Sarney; sob sua iniciativa, é aprovada a primeira lei de incentivos fiscais à cultura. Em julho de 1988 pede demissão do cargo, retornando às atividades acadêmicas no Brasil e no exterior.
De 1987-90 integra a South Commission, criada e presidida pelo presidente Julius Nyerere, e formada por países do Terceiro Mundo para formular uma política para o Sul. Entre 1993-95 é um dos doze membros da Comissão Mundial para a Cultura e o Desenvolvimento, da ONU/UNESCO, presidida por Javier Pérez de Cuéllar. Entre 1996-98 integra a Comissão Internacional de Bioética da UNESCO. Em 1997 é organizado em Paris, pela Maison des Sciences de l'Homme e a UNESCO, o congresso internacional "A contribuição de Celso Furtado para os estudos do desenvolvimento", reunindo especialistas do Brasil, Estados Unidos, França, Itália, México, Polônia e Suíça. No mesmo ano é criado pela Academia de Ciências do Terceiro Mundo, com sede em Trieste, o Prêmio Internacional Celso Furtado, conferido a cada dois anos ao melhor trabalho de um cientista do Terceiro Mundo no campo da economia política. É Doutor Honoris Causa das universidades Técnica de Lisboa, Estadual de Campinas-UNICAMP, Federal de Brasília, Federal do Rio Grande do Sul, Federal da Paraíba e da Université Pierre Mendès-France, de Grenoble, França.
Em agosto de 1997 é eleito para a cadeira n. 11 da Academia Brasileira de Letras. Empossado em 31 de outubro, é saudado pelo Acadêmico Eduardo Portella.
Bibliografia
- Ficção:
Contos da vida expedicionária – de Nápoles a Paris. (RJ, Zelio Valverde, 1946)
- História econômica:
L'économie coloniale brésilienne. (Tese de doutoramento, Université de Paris, 1948)
A economia brasileira. (RJ, A Noite, 1954)
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A hegemonia dos Estados Unidos e o subdesenvolvimento da América Latina.(RJ, Civilização Brasileira, 1973) Tradução em espanhol (Barcelona, Edicusa, 1971; Lima, Campodonica, 1971), francês (Paris, Calmann-Lévy, 1970), inglês (Nova York, Anchor Books-Doubleday, 1970), italiano (Milão, Franco Angeli, 1971), japonês (Tóquio, Shinsekaisha, 1972).
A economia latino-americana.(SP, Editora Nacional, 1976) Tradução em espanhol (Santiago do Chile, Universitaria, 1969; México, Siglo XXI, 1971; Havana, Guairas, 1972), chinês (Beijing, 1983), francês (Paris, Sirey, 1970), inglês (Cambridge, Cambridge University Press, 1970), italiano (Bari, Laterza, 1971), japonês (Tóquio, Shinsekaisha, 1969), sueco (Estocolmo, Rabén & Sjörgren, 1972).
- Política econômica:
Perspectivas da economia brasileira. (RJ, Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1958)
A Operação Nordeste. (RJ, Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1959)
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Um projeto para o Brasil. (RJ, Saga, 1968) Tradução em inglês (Nova York, Anchor Books-Doubleday, 1970).
Análise do "modelo" brasileiro. (RJ, Civilização Brasileira, 1972) Tradução em espanhol (Buenos Aires, Centro Editor de America Latina, 1972), francês (Paris, Anthropos, 1974).
O Brasil pós-"milagre". (RJ, Paz e Terra, 1981) Tradução em espanhol (México, Fondo de Cultura Económica, 1983), francês (Paris, Maison des Sciences de l'Homme, 1987).
A nova dependência, dívida externa e monetarismo. (RJ, Paz e Terra, 1982) Tradução em espanhol (Buenos Aires, Centro Editor de America Latina, 1985).
Não à recessão e ao desemprego. (RJ, Paz e Terra, 1983) Tradução em espanhol (Buenos Aires, Paz e Terra, 1984), francês (Paris, Anthropos, 1984), inglês (Londres, Third World Foundation, 1984).
Cultura e desenvolvimento em época de crise. (RJ, Paz e Terra, 1984)
ABC da dívida externa. (SP, Paz e Terra, 1989)
Brasil, a construção interrompida. (SP, Paz e Terra, 1992) Tradução em espanhol (México, Fondo de Cultura Económica, 1992), francês (Paris, Publisud, 1995).
- Teoria econômica:
Desenvolvimento e subdesenvolvimento. (RJ, Fundo de Cultura, 1961) Tradução em espanhol (Buenos Aires, EUDEBA, 1964), persa (Teerã, 1980), francês (Paris, PUF, 1966), inglês (Los Angeles, University of California Press, 1964).
Dialética do desenvolvimento. (RJ, Fundo de Cultura, 1964) Tradução em espanhol (México, Fundo de Cultura Económica, 1965).
O mito do desenvolvimento econômico. (RJ, Paz e Terra, 1974; SP, Círculo do Livro, s.d.; SP, Paz e Terra, ed. abreviada, 1996) Tradução em espanhol (Buenos Aires, Periferia, 1974; México, Siglo XXI, 1975), francês (Paris, Anthropos, 1976), polonês (Varsóvia, Panstwowe Wydawnictwi Ekonomiczne, 1982).
Prefácio a nova economia política. (RJ, Paz e Terra, 1976; Lisboa, Dinalivro, s. d.) Tradução em espanhol (México, Siglo XXI, 1976), italiano (Milão, Jaca Book, 1977).
Criatividade e dependência na civilização industrial.(RJ, Paz e Terra, 1978; SP, Círculo do Livro, 1978) Tradução em espanhol (México, Siglo XXI, 1979), alemão (Frankfurt, Verlag für Interkulturelle Kommunikation, 1984),francês (Paris, PUF, 1981), inglês (Oxford, Martin Robertson, 1983).
Pequena introdução ao desenvolvimento – um enfoque interdisplinar. (SP, Editora Nacional, 1980) Tradução em espanhol (México, Fondo de Cultura Económica, 1983), francês (Paris, Publisud, 1989).
Transformação e crise na economia mundial. (SP, Paz e Terra, 1987) Tradução em espanhol (Bogotá, Tercer Mundo Editores, 1990).
O capitalismo global. (SP, Paz e Terra/RJ, ABL, 1998; Lisboa, Gradiva, 1999) Tradução em espanhol (México, Fondo de Cultura Económica, 1999).
- Memorialística:
A fantasia organizada.(RJ, Paz e Terra, 1985) Tradução em espanhol (Buenos Aires, EUDEBA, 1988; Bogotá, Tercer Mundo Editores, 1989), francês (Paris, Publisud, 1987).
A fantasia desfeita.(SP, Paz e Terra, 1989)
Os ares do mundo.(SP, Paz e Terra, 1991) Tradução em espanhol (México, Fondo de Cultura Económica, 1993).
Celso Furtado – Obra autobiográfica, 3 vol. (SP, Paz e Terra, 1997)
Seca e Poder. (SP, Fundação Perseu Abramo, 1998)
- Antologias:
El subdesarollo latinoamericano, ensayos de Celso Furtado.(México, Fondo de Cultura Económica, 1982)
Obras escogidas de Celso Furtado.(Bogotá, Plaza & Janes, 1982)
- Ensaios em obras coletivas (seleção):
"Förenta staterna och Latinamerikas framtid", em Latinamerikaner om Latinamerika. P. Schori (organizador), J. Bosch, C. Fuentes, C. Furtado, F. Julião, F. Castro, E. Che Guevara, J. de Castro, J. Figueres et alii. Oskarshamm, Suécia, Prisma, 1968.
"Marx's model in the analysis of the underdeveloped economic structures", em Marx and contemporary scientific thought. R. Aron, M. Rodinson, C. Furtado, R. Garaudy, E. Hobsbawn, T. Adorno, A. Sauvy, A. Schaff, H. Marcuse, I. Sachs, J. Habermas et alii. Paris/Haia, Mouton, 1969.
"Probleme der Industrialisierung in Lateinamerika", em Die Aktuelle Situation Lateinamerikas. Hanns-Albert Steger (organizador), M. Berger, B. Kötting, C. Furtado, F. Fernandes, G. Freyre, F. H. Cardoso, C. Rama et alii. Frankfurt, Athenäum, 1971.
"Da República oligárquica ao Estado militar", em Brasil: Tempos Modernos. C. Furtado (organizador), H. Jaguaribe, F. Weffort, F. H. Cardoso, F. Fernandes, J. Leite Lopes, O. M. Carpeaux, J. C. Bernadet, A. Callado. RJ, Paz e Terra. Tradução em espanhol (México, Siglo XXI, 1968) e alemão(Frankfurt, Athenäum, 1971).
"Entraves ao desenvolvimento", em O Brasil na encruzilhada. J. de Castro, M. Arraes, C. Furtado, F. Julião, M. M. Alves, D. Helder Câmara, S. Lafaurie et alii. Lisboa, Dom Quixote, s. d.
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Guimarães, Maria Eugênia. Modernização brasileira no pensamento de Celso Furtado. SP, Universidade de Campinas, 1993.
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